A vida em Amesterdao



Nao o retalho da vida de um medico, mas o retalho da vida de uma portuguesa na terra dos diques, bicicletas, tulipas, moinhos, queijo... e sim, das drogas e do Red Light District tambem.


segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

India (IV) - A pobreza

Estava por todo o lado, entrava-me pelos olhos dentro assim que saia do campus.
Pessoas a dormir a beira da estrada, famílias inteiras sem um abrigo nem proteccao, com lumes acessos a 30 cms de camioes que passam, criancas nuas sentadas no chao imundo, roupas estendidas nas arvores e nos muros, vacas e cabras a partilhar o mesmo espaco, lixo por todo o lado. Desolador.
Custa-me horrores assistir a isto. Nao suporto. E discutir com o condutor do riquexó se a viagem custará 30 ou 40 rupias (uma diferenca de cerca de 5 centimos para mim) como se fosse a discussao mais essencial ao futuro da humanidade. E se pago 5 ou 10 rupias por um papagaio de papel... Nao sei. É suposto regatear, sei que se me pedem 30 pediriam 10 a um local, que estou efectivamente a ser roubada, mas... é complicado.
E saber que o sistema de castas ainda continua bem vivo. E que a elite Indiana, mesmo a que teve acesso a educacao no estrangeiro e voltou, continua a compactuar com o establishment.
Um pequeníssimo exemplo: o campus é gigante (cerca de 100 hectares) e está com obras em algumas partes. Obviamente, há imensos empregados de construcao civil envolvidos. E sao eles que dormem, com as familias, junto aos muros da faculdade. Como nao tem dinheiro para arrendar casa no centro de Ahmedabad e nao querem ter de viajar para estarem no trabalho a horas, simplesmente "acampam" em frente a faculdade. E a faculdade sabe-o e nada faz. Vários professores (que ja deram aulas em Oxford, Harvard, MIT, etc...) que voltaram para ensinar na India mencionaram o assunto como sendo uma inevitabilidade.... Ora batatas para isto! Com 100 hectares, nao podiam organisar umas tendas de campanha ou algo do género? Se salários maiores nao sao possíveis, nao podiam "reduzir" uma parte do salário, se necessário, mas criar o mínimo de condicoes para aquelas pessoas? Para nao terem de dormir em chao de terra batida, rodeados de fumos de escape, poluicao e perigo?
Nao, pelos vistos nao ocorreu a ninguém. Será assim algo de tao complicado?!
E a facilidade com que as pessoas se habituam as mordomias é impressionante. Ao principio da semana toda a gente do meu grupo que queria algo para comer, levantava-se e ia a mesa do buffet buscar. No final, fartei-me de ver pessoas a pedir aos empregados para trazer coisas específicas. Nao era de todo mal-intencionado, mas o servilismo da parte dos empregados era tao evidente que "naturalmente" as pessoas assumiram uma postura um pouco diferente. E isto numa semana.

(Da pobreza nao há fotos. Tirei algumas, nao propositadamente, mas que reflectem a miséria existente. Nao as vou partilhar)

Sem comentários: